segunda-feira, agosto 08, 2005

O Princípio do Mundo...

Olá!
Hoje, quero começar a mostrar um pouco da minha infância, regada com muitos contos indígenas contado pela minha avó e pela minha mãe.... Essa primeira, lembro de estar deitada na rede com a minha avó, olhando o céu azul, e ela sentava ao meu lado, abria o livro e perguntava: Pronta pra viajar? E eu respondia: Claro vó! Então, mais que depressa eu fechava meus olhos e ficava bem atenta, ouvindo tudo o que minha avó contava, e era como se eu assistisse um filme novo toda vez que ela me contava histórias!


O Princípio do Mundo
Todas as coisas estavam envoltas numa escuridão impenetrável; uma neblina densa cobria a terra. Saíram das trevas dois índios: um, Caruçacahy, grande e corpulento; outro, Rairu seu filho. Descuidadamente Rairu tropeçou. Ficou furioso. Tinha pisado numa casca de tartaruga. O pai tomou-a: "Leve-a nas constas!" Ordenou ao moço.
O índio obedeceu e foi andando.
A casca de tartaruga foi, aos poucos, aumentando de tamanho até que ele não pode mais suportá-la.
Quando pensava que seria esmagado, a casca subiu: transformou-se no céu.
Logo nasceu o sol. Teve um filha, a lua, brilhante e muito branca a qual gerou as estrelas. Rairu aprendia depressa e observava tudo ao seu redor.
Em pouco tempo, sabia mais do que o pai. Por isso, Caru não gostava dele e vivia pensando em matá-lo.
Certa vez, encontranco um tucumanzeiro, atirou uma flecha acertando bem no alto da árvore. "Rairu, vai buscar a flecha!" O moço antendeu. O tucumanzeiro guardou seus espinhos para não machucá-lo. Caru tremia de raiva, mas não disse nada.
Daí uns dias cortou o tronco de outra árvore; empurrou-o, deixando-0 cair em cima do filho e foi-se embora.
Ao amanhecer do dia seguinte, o jovem estava bom. Nada lhe havia acontecido. O índio Caru não desistiu. Tentou mis uma porção de meios. Pôs fogo na mata, construiu armadilhas...Era inútil!
Um dia, fez um tatu com folhas e gravetos. Untou-o com resina e mandou que o rapaz o agarrasse. O tatu escavou o solo e desapareceu, puxando Rairu que ficara preso pela cola. Quando já estava bem no funo, o moço libertou-se e retornou à superfície. Vendo que o pai, irado, erguia o chicote, gritou: "Não! Encontrei gente na terra. São bons pra trabalhar."
Do buraco do tatu, surgiram homens. Rairu espremeu folhas e raízes; preparou tintas de várias cores: verde, amarelo, azul, vermelho... Pôs-se a pintar aquela gente.
Fez isso tão vagarosamente que alguns adormeceram. Caru separou-os: "Por terdes dormido, sereis animais: passarinhos, macacos, morcegos, borboletas..." Depois falou aos que permaneciam acordados: "Sereis homens! Vossos filhos serão guerreiro corajosos!" Assim que terminou de falar, sumiu pela terra. Nunca mais voltou.
Chamaram esse lugar de Caru-cupi
(Lendas Indígenas - Gráfica Ed. Aquarela, SP, 1962)

2 comentários:

Cristiano Contreiras disse...

Absorver tua escrita é ir de encontro ao nosso cerne psicológico!

amei teu espaço

Allan C. disse...

Oi. Um conto muito próximo de muitos contos wiccanos, normalmente só muda as personagens, os lugares, mas em essência é o mesmo mito, por isso acredito que possa ser verdadeiro, que possa ser tão real como os átomos que constituem nosso corpo. Crie a cada dia, de início a um novo tempo, a um novo sonho, a um novo mundo. Bjos.