quarta-feira, agosto 10, 2011


Houve um tempo, onde o céu era mais azul, as cores mais vibrantes e as flores mais perfumadas. Foi nesse tempo em que ela nasceu. Apressada, com ansia de conhecer o mundo. Pequena de olhos e cabelos escuros; e pele clara como a de seu pai. Sua mãe morrera ao dar-lhe à luz e a menina foi criada por seu carinhoso e zeloso pai.

Sempre curiosa sobre a mãe, a menina, enchia o pai com perguntas, e este sempre respondia com a voz cheia de amor e saudade. Ele costumava dizer que a menina havia herdado o amor pelo próximo e o brilho nos olhos da mãe; e a calma e teimosia dele.

Ela sentia muita falta daquela mãe com quem nem chegou a conviver mas, de quem lembrava muito bem do cheiro e toque. Nos dias onde a saudade mais apertava, a menina se sentava em uma pedra de frente ao mar verdinho e assistia ao por do sol. Depois, entrava no mar e brincava nas águas claras e frias. Sempre aos olhos atentos do pai que não entendia o comportamento da filha.

Certo dia, não conseguindo conter a curiosidade e, após um dos muitos episódios da filha, o pai a questionou sobre tal fato.

— Assim eu posso senti-la. Posso ver o brilho de seus olhos quando o sol vai dormir. Posso sentir o seu perfume quando o vento sopra em minha direção e, o mais importante, posso sentir o seu toque quando entro no mar. É aqui onde me sinto perto dela. Perto da mamãe.

Comovido com as palavras da filha, aquele pais que antes só observada a menina brincar no mar, agora passou a acompanhá-la, e, durante muito tempo, repetiram tal ato.

A menina cresceu, seguiu seu rumo, constituiu família. Aquele pai agora era avô. Um avô tão zeloso quanto fora como pai.

Pai e filha assistiram ao sol se por muitas vezes juntos. Assistiram quantas vezes a vida lhes permitiu. Sempre lembrando daquela mãe que tanta falta lhes fazia.

Em seu tempo o pai se foi. Vivera uma vida plena ao lado de sua filha e ,agora, havia chegado a hora de ir ao encontro de sua amada. A menina não chorou de tristeza, chorou de alegria, pois sabia que seu pai estava feliz, estava novamente com o amor de sua vida.

Muitos anos mais tarde, após ela também ter se tornado avo, a filha sentia sua hora se aproximar. Em uma noite de lua cheia, sonhou que esta na beira do mar. Ela não tinha mais as marcas do tempo em seu rosto, agora, era criança novamente. Aquela criança de longos cabelos castanhos e tez rosada que abraçava o mar.

Enquanto corria pela praia, a menina viu ao longe o pai, na mesma posição de sempre e, a sua frente, chamando seu nome e de braços abertos, a menina viu uma mulher. Uma mulher de voz conhecida. A menina sentiu o coração bater mais rápido. Ela então, olhou para o pai, que sorria. Com o olhar eles se entenderam. O pai consentiu com a cabeça

A menina correu na direção da mulher e, enquanto corria, pensava no quanto ela era bela. Elas se abraçaram. Um longo e delicioso abraço. A mãe então disse com a voz suave:

— Estávamos à sua espera, meu bebê. Venha, vamos para casa!

E sorrindo, a menina deu a mão aos pais e, juntos, eles foram para casa.
[09/08/2011]