terça-feira, outubro 18, 2005

Uma Informação, Por Favor...



Quando eu era criança, bem novinho, meu pai comprou o primeiro telefone da vizinhança. Ainda me lembro daquele aparelho preto e brilhante no aparador da sala. Eu era muito pequeno para alcançar o telefone, mas ouvia, fascinado minha mãe falar nele.

Um dia descobri que dentro daquele objeto maravilhoso morava uma pessoa legal. O nome dela era Uma Informação, Por Favor. Não havia nada que ela não soubesse. Uma Informação, Por Favor poderia fornecer qualquer número de telefone e até a hora certa.

Minha primeira experiência com esse verdadeiro gênio da garrafa se deu num dia em que minha mãe estava fora, na casa de um vizinho. Eu brincava na garagem, mexendo na caixa de ferramentas, quando dei com o martelo no dedo. A dor foi terrível, mas não adiantava eu chorar, porque não havia ninguém em casa para me oferecer simpatia.

Eu andava a esmo pela cansa, chupando o dedo dolorido, quando me lembrei: O telefone!

Rapidamente fui até o portão, peguei uma pequena escada e a coloquei em frente ao aparador da sala. Subi na escada, tirei o fone do gancho e segurei contra o ouvido. Uma voz feminina atendeu e eu disse:

— Uma Informação, Por Favor.

Ouvi uns dois ou três cliques e depois uma voz suave e nítida falou no meu ouvido.

— Informações.

— Machuquei meu dedo... — As lágrimas vieram facilmente, agora que eu tinha audiência.

— Sua mãe não está em casa? — ela perguntou.

— Não tem ninguém aqui... — Eu soluçava.

— Está sangrando?

— Não. Machuquei o dedo com o martelo, mas está doendo...

— Você consegue abrir o congelador? — ela perguntou.

Respondi que sim.

— Então pegue um cubo de gelo e passe no dedo — disse a voz.

Depois daquele dia, eu ligava para Uma Informação, Por Favor por qualquer motivo. Ela me ajudou nas minhas dúvidas de geografi e me ensinou onde ficava a Filadélfia. Ela me ajudou também nos exercícios de matemática e me ensinou que o pequeno esquilo que eu havia trazido do bosque deveria comer nozes e frutinhas.

Então, um dia, meu canário Petey morreu. Liguei para Uma Informação, Por Favor e contei o ocorrido. Ela me escutou e começou a falar aquelas coisas que se dizem para uma criança que está crescendo. Porém eu estava inconsolável. Eu perguntava:

— Por que os passarinhos, que cantam tão lindamente e trazem tanta alegria para gente, no fim têm que acabar como um monte de penas no fundo de uma gaiola?

Ela deve ter compreendido minha preocupação com a morte, porque acrescentou mansamente:

— Paulo, lembre-se sempre: também existem outros mundos onde a gente pode cantar...

De alguma maneira, depois disso eu me senti melhor. No outro dia, lá estava eu de novo.

— Informações — dizia a voz tão familiar.

— Você sabe como se escreve "exceção"?

Isso aconteceu na minha cidade natal, Seattle. Quando eu tinha nove anos, nos mudamos para Boston. Sentia muita falta da minha amiga. Uma Informação, Por Favor partencia apenas àquele velho aparelho telefônico preto; eu não tinha nenhuma atração pelo nosso novo aparelho telefônico, todo branquinho e instalado no novo aparador da nossa nova sala.

Mesmo à medida que eu crescia, as lembranças daquelas conversas infantis nunca me saíam da memória. Freqüentemente, em momentos de dúvida eu perplexidade, eu tentava recuperar o calmo sentimento de segurança ensiva e gentil ao perder tempo atendendo as ligações de um molequinho!

Anos depois, quando eu ia para a faculdade, meu avião fez uma escala em Seattle. Eu dispunha de mais ou menos meia hora. Primeiro, liguei para minha irmã, que ainda morava na nossa cidade natal, e falei com ela por quinze minutos. Então, sem nem mesmo me dar conta do que fazia, disquei o número da operadora da minha cidade e pedi:

— Uma Informação, Por Favor.

Como num milagre, ouvi aquela mesma voz doce e clara que eu conhecia tão bem:

— Informações.

Eu não tinha planejado, mas me vi perguntando:

— Você sabe como se escreve "exceção"...?

Houve uma longa pausa e então veio uma resposta suave:

— Pelo jeito, seu dedo já melhorou, Paulo.

Eu ri e disse:

— Então, é você mesma... Não faz idéia de como foi importante pra mim naquele tempo!

— Eu imagino — ela disse.

— Não faz idéia de quanto significavam para mim aquels ligações. por muito tempo esperei, todos os dias, você me ligar.

Contei a ela o quanto havia pensado nela todos aqueles anos e perguntei se poderia procurá-la um dia, quando fosse visitar minha irmã.

— Claro! — ela respondeu. — Venha até aqui e procure pela Sally.

Três meses depois, fui a Seattle ver minha irmão, Quando liguei para Sally, uma voz diferente atendeu:

— Informações.

Eu disse que queria falar com Sally.

— Você é amigo dela? — perguntou a voz.

— Sim, um velho amigo. Meu nome é Paulo.

— Sinto muito, mas a Sally ultimamente trabalhava aqui apenas meio período. Ela estava doente. Infelizmente, morreu há cinco semanas.

Antes que eu pudesse desligar, a voz perguntou:

— Espere um pouco. Você disse que o seu nome é Paulo?

— Sim.

— A Sally deixou uma mensagem para você. Ela a escreveu e pediu que eu a guardasse, caso você ligasse. Vou ler para você.

A mensagem dizia:

"Diga a ele que eu ainda acredito que também existam outros mundos onde a gente possa cantar. Ele vai entender"

Agradeci e desliguei. Eu tinha entendido.

(Trecho do livro "Nunca deixe de sonhar")

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